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De humorista a pré-candidato de Belém, sede da cop 30 no Brasil

Foto: Reprodução

Charles Louis de Secondat, barão de La Brède e de Montesquieu,conhecido como Montesquieu, foi um político, filósofo e escritor nascido na França em 1689. É famoso por sua teoria da separação dos poderes, consagrada em muitas das modernas constituições internacionais, inclusive a Constituição Brasileira. É dele a frase “Quanto menos os homens pensam, mais eles falam”.

A frase é talhada para muitos dos políticos em atividade no Pará neste século de absoluto apagão intelectual do parlamento, mas se adequa a poucos, como ao humorista falastrão e dublê de político Flávio Higor Pantoja, que atende pela alcunha de Bob Fllay.

Tudo nesse personagem parece fake. Até o nome. O verdadeiro Bobby Flay, por exemplo, é Robert William Flay, chef americano de celebridades, empresário da gastronomia e personalidade de reality show. Flay, o original, é proprietário e chef executivo de vários restaurantes e franquias, incluindo Bobby’s Flay Burger Palace, Bobby’s Flay Burgers e Amalfi.

O Flay de Ananindeua copiou o nome, mas não a envergadura. Enveredou por misturar o riso fácil da escatologia popular com a baixa política, aquela que se pratica sem nenhum apego ao bem comum. Uma das frases mais comuns ao político de baixo quilate é a expressão “eu estou na política para ajudar as pessoas”, que é um eufemismo para o assistencialismo barato, aquele que leva o eleitor ao “Serasa eleitoral”, ou seja, a “dever” voto ao político, consignado por necessidade.

Quando a política funciona verdadeiramente, o político não precisa “ajudar” ninguém, porque os direitos são garantidos e a população é assistida pelo poder público. A baixa política prospera quando a alta política falha e vigora o assistencialismo.

HALL DA FAMA

Apresentador do programa humorístico “Bob Show”, no Grupo O Liberal, o humorista teve uma aparição meteórica no reality show Big Brother, o que lhe valeu a notoriedade que agasalha até hoje e que, com apoio da família mais famosa de Ananindeua, converteu em dois mandatos igualmente improdutivos, um de vereador em sua cidade de origem e outro de deputado estadual, que, por assim dizer, exerce atualmente.

APELAÇÃO E APOLOGIA

“Profissional de like”, definição técnica para o que popularmente se chama de influencers, Fllay publicou no começo deste ano foto dele próprio dentro de uma viatura da Polícia Militar, o que foi considerado por alguns usuários das redes como “apelativo” e para outros, simples “apologia ao crime”. Mas ele fez questão de comemorar a polêmica, anunciando que “o engajamento” também o ajudou “a ficar ainda mais rico” e a aumentar o preço cobrado por patrocínio em suas redes sociais. Na mesma onda de caçar likes, Fllay, que saiu de recente bate-boca virtual com o youtuber David Mafra, publicou foto de sua derrière, acompanhada da legenda polêmica: “Foto só do rosto pq eu não preciso ficar expondo meu corpo igual essas blogueiras de hoje!”.

O circo está montado

Foi sem dúvida em busca de mais likes que o humorista publicou, semana passada, um vídeo em que, sem camisa e posando em um quarto de dormir com cama coberta com lençóis cor-de-rosa, faz rasgados – e esperados – elogios ao prefeito Daniel Santos, prefeito de Ananindeua, seu padrinho político das duas eleições que Fllay venceu, para em seguida anunciar que será – ou deve ser – candidato a prefeito de Belém.

“Agora o circo da eleição em Belém está completo: chegou o palhaço”, disse um comentarista na internet.

Além dessa, há outras leituras possíveis. A primeira é de que se trata de uma provocação articulado pelo clã Daniel-Alessandra para gerar embaraços ao plano geopolítico da família Barbalho que, para se cumprir, precisa cumprir o acordo com o PT – leia-se Lula – de manter Edmilson Rodrigues, aliado de Guilherme Boulos, no comando da administração da capital. A aliança dos Barbalhos com a esquerda está configurada no próprio ministério comandado por Jader Filho, primogênito do senador Jader. O ativista por moradia Guilherme Simões Pereira, membro da coordenação nacional do MTST – que coordena ocupações de moradia em áreas urbanas – e indicado pelo deputado federal Guilherme Boulos, teve seu nome referendado por Lula, sendo nomeado com pompa e circunstância pelo irmão do governador do Pará, o que projeta nacionalmente o acordo para manter Edmilson, o aliado de Boulos e Lula, à frente da Prefeitura de Belém.

Outra leitura possível é de um voo solo de Bob Fllay, mais um voo de galinha, por assim dizer, no estilo dos praticados por um ex-deputado e radialista, que tem o hábito de lançar o próprio nome como candidato em vários municípios para depois negociar a desistência com os verdadeiros favoritos.

Independente da tese que o leitor escolher, a pretensão esbarra em um embaraço legal: ele foi eleito pelo PTB, mesmo partido em que está filiado o delegado afastado Everaldo Eguchi, candidatíssimo à sucessão em Belém, onde disputou o segundo turno na eleição de 2020. Eguchi aparece tecnicamente empatado com Edmilson Rodrigues e Ursula Vidal na preferência do eleitor da capital na última pesquisa publicada pela revista “Veja”.

O ex-deputado Márcio Miranda, que preside o PTB e filiou Eguchi à legenda, o fez com o firme propósito de ter um nome forte e já provado em eleição majoritária na disputa de 2024. “Eguchi é esse nome”, teria dito Miranda para aplauso dos presentes na cerimônia de adesão do rival natural de Edmilson.

RESUMO DA HISTÓRIA

Quanto menos os homens pensam, mais eles falam, disse Montesquieu. O cor-de-rosa Bob Fllay não sabe quem é o barão, mas segue dando a ele mais razão do que imagina.

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