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Guerra no Leste Europeu pode trazer crise alimentar ao Brasil

100 dias de guerra Russo-Ucraniana e o Brasil pode sofrer os impactos da guerra, já que importamos insumos da Rússia.

Entenda

A Guerra Russo-Ucraniana é um conflito contínuo e prolongado que começou em fevereiro de 2014, envolvendo principalmente a Rússia, forças pró-russas e Ucrânia concentrada na península da Crimeia. No entanto, as tensões entre a Rússia e a Ucrânia explodiram especialmente de 2021 a 2022, quando ficou claro que a Rússia estava considerando lançar uma invasão militar da Ucrânia. Em fevereiro de 2022, a crise se aprofundou e as negociações diplomáticas para subjugar a Rússia falharam; isso aumentou quando a Rússia moveu forças para as regiões controladas pelos separatistas em 22 de fevereiro de 2022.

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Cidade ucraniana sendo atacada

E o Brasil com isso?

Apesar de grande produtor, o Brasil depende doutros países para tratar o solo com fertilizantes. Cerca de 70% do insumo usado na agricultura vem do exterior e a Rússia é a principal fornecedora. Em 2021, 23% dos adubos ou fertilizantes químicos importados vieram do país europeu, aponta o levantamento do Comex Stat, do Ministério da Economia. São mais de 9,2 milhões de toneladas do produto. Para tanto, o Congresso Nacional, principalmente a Câmara dos Deputados têm feito audiências e debates com especialistas a respeito  do assunto.

À casa

As comissões de Desenvolvimento Econômico, Indústria, Comércio e Serviços; e de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos Deputados realizaram audiência pública conjunta no dia 31 de maio para analisar o conflito entre Rússia e Ucrânia. O debate pretende abordar os impactos da guerra no cenário geopolítico global e os efeitos econômicos, sociais e no agronegócio do Brasil, bem como a posição brasileira relativa ao conflito armado. A deputada PERPÉTUA ALMEIDA (PCdoB-AC), que pediu o debate, disse que a audiência pretende analisar também as possibilidades de intensificação da disputa entre os países da Otan, em especial os EUA, e o bloco China/Rússia; e o aumento dos gastos militares e novas armas de guerra que entram em cena, como a informacional, a energética e a financeira. Para ela, é importante também debater os impactos nas cadeias globais de valor e de suprimentos, já antes afetadas pela Covid-19.

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Deputada federal PERPÉTUA ALMEIDA (PCdoB-AC)

Debater os efeitos para o agronegócio brasileiro, seja em termos de insumos (fertilizantes), logística e mercados para exportação; as consequências na questão energética e a necessidade de aumento da produção de petróleo e gás no Brasil, bem como a abertura de novas frentes de exploração, como na margem equatorial brasileira“, observou ela [Perpétua].

Elevação de preços e escassez de alimentos e combustíveis foram as principais consequências da guerra entre Rússia e Ucrânia apontadas por participantes de audiência pública. O debate reuniu representantes do Governo, do setor produtivo e especialistas em geopolítica e comércio internacional.

Na abertura da audiência

Foto: Harry

Segundo o secretário de Assuntos Multilaterais Políticos do Ministério das Relações Exteriores, embaixador Paulino Franco de Carvalho, o Brasil procura manter uma posição de neutralidade e aposta na solução diplomática para pôr fim ao conflito. O embaixador criticou as sanções unilaterais impostas à Rússia, que podem colocar em risco a segurança alimentar de grande parte da população do planeta. “Atingem produtos essenciais à sobrevivência de grande parte da população, como os fertilizantes de que nós no Brasil precisamos e são igualmente essenciais para garantir a segurança alimentar de países em desenvolvimento, que respondem por ¾ da população mundial”, alertou o secretário. O professor da Escola Superior de Guerra, Ronaldo Carmona, defende que o Brasil tem de investir na industrialização, a fim de garantir o abastecimento de produtos estratégicos, como combustíveis e fertilizantes. Carmona acredita que a guerra é uma consequência de mudanças que já vêm ocorrendo na correlação de forças mundiais nas últimas décadas. “Todos os grandes países passam a considerar como prioridade o fator de segurança nacional no que diz respeito à obtenção de bens ou insumos críticos e vitais. Essa é uma questão que o Brasil, certamente, precisa tirar lições no sentido de reconstrução de sua capacidade industrial”, recomendou o docente. O professor acredita que a solução para o problema pode estar em buscar novos parceiros comerciais e firmar parcerias no próprio continente sul-americano, onde há países com plantas ociosas que podem suprir a falta do produto provocada pela guerra no leste europeu. “O Brasil tem que buscar diversificar as importações com diferentes parceiros para não depender de um só país. E, ao diversificar as importações, buscar parceiros que sejam confiáveis do ponto de vista geopolítico, político e também logístico. Do ponto de vista de vizinhança, a gente tem um favorecimento logístico na América do Sul”, acrescentou o professor.

Uma possível crise alimentar

O Ministério do Comércio e Indústria da Rússia recomendou aos produtores de fertilizantes do país que suspendam temporariamente as exportações.Em comunicado, a Pasta diz que, devido à situação atual dos operadores logísticos estrangeiros e aos riscos envolvendo a guerra entre Ucrânia e Rússia, a recomendação é de suspensão temporária das exportações. Hoje, o Brasil é o maior importador do mundo, trazendo de fora mais de 80% dos fertilizantes utilizados pelo agronegócio. Apesar de o Brasil não ser um país que entraria nesta lista de restrição, a preocupação em relação ao fornecimento de fertilizantes da Rússia para o plantio da safra 2022/2023 aumentou nos últimos dias, já que o país não consegue receber os insumos russos devido à falta de navios e de seguro para que embarcações possam carregar fertilizantes no mar Báltico e Negro. “O Brasil é um dependente da Rússia na importação de fertilizantes e isso é fato. A China é o segundo maior fornecedor (US$ 2,1 bilhões), mas o valor não chega nem na metade do que o Brasil importa da Rússia“, diz Rob Correa, analista de investimentos CNPI e autor do livro Guia do Investidor de Sucesso no Longo Prazo. Segundo o especialista, o Brasil não é autossuficiente em fertilizantes e importa a maior parte do que consome, sendo o cloreto de potássio um dos principais deles. Um dos principais impactos é no bolso. Antes da guerra, no porto de Vancouver, no Canadá, referência internacional, o preço da tonelada de cloreto de potássio saiu de US$ 279 dólares, em maio do ano passado, para US$ 680 dólares em dezembro, subida já influenciada pelo aumento das tensões entre Rússia e Ucrânia, que havia começado meses atrás.

Um problema de Relações Internacionais

O Ministério das Relações Exteriores do Brasil, também conhecido como Palácio do Itamaraty, é um órgão do Poder Executivo responsável pelo assessoramento do Presidente da República na formulação, no desempenho e no acompanhamento das relações do Brasil com outros países e organismos internacionais. O órgão do Executivo tem se empenhado muito na solução diplomática do problema. Para tanto, em coletiva de imprensa durante a audiência na Câmara dos Deputados, o secretário embaixador Paulino Franco de Carvalho, do Itamaraty, declarou ao Portal Política que tem orgulho de dizer que nenhum brasileiro será deixado para trás do conflito europeu.

File:Fachada do Palácio Itamaraty (48079593813).jpg - Wikimedia Commons

Fachada do Palácio do Itamaraty, o Ministério das Relações Exteriores

 

Ilação

Ora, o mundo mal saiu da pandemia da Covid-19 e veio a guerra; penso que Putin só estava esperando a poeira baixar para atacar a Ucrânia. Sim, pois o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky já avisava há tempos dum possível ataque russo. E o resultado, o conflito deixa fertilizantes caros e, por conseguinte, o agronegócio no Brasil poderá ser afetado“. Harry, jornalista e professor.

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