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Lula irá a Washington para um “resettling” na relação

O presidente encontrar-se-á com Joe Biden para discutir os atos golpistas no Capitólio e na Praça dos Três Poderes; além doutros assuntos.

Nesta sexta-feira, dia 10, pela manhã, está previsto um encontro do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com o presidente dos EUA Joe Biden. Lula irá acompanhado da primeira-dama, Janja, e duma comitiva de ministros que ainda está sendo definida. As informações foram divulgadas pelo Ministério das Relações Exteriores; ademais, consoante o embaixador Michel Arslanian Neto, secretário de América Latina e Caribe, é possível que haja declarações à imprensa norte-americana.

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ENTENDA

Os ataques golpistas sofridos pelos dois países serão pauta na conversa entre Biden e Lula. Ora, ambos os países experimentam desafios semelhantes: preocupação comum com o tema da radicalização, violência política, tema do uso das redes para difusão de desinformação e discursos de ódio. Em 6 de janeiro de 2021, apoiadores do candidato derrotado nas eleições Donald Trump invadiram a sede do Capitólio e depredaram o local; enquanto que em 8 de janeiro deste ano, golpistas radicais invadiram os prédios dos Três Poderes em Brasília e destruíram boa parte dos edifícios. Dessarte, o foco da viagem de Lula tem caráter político, pois imediatamente após a vitória do segundo turno ele [Lula] recebeu o convite dos EUA para visita presidencial.

  • Em Brasília, 8 de janeiro de 2023

Milhares de extremistas bolsonaristas invadiram e depredaram o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto e a sede do STF na tarde de domingo, 8 de janeiro. O efetivo policial não conseguiu conter os terroristas que invadiram os prédios dos três Poderes, muitos deles munidos com máscaras de gás e capacetes. A invasão foi transmitida em lives por bolsonaristas radicais com o início por volta das 15h e a situação só foi controlada no meio da noite. A polícia lançou bombas de efeito moral e de gás lacrimogêneo para desocupar os prédios dos Três Poderes.

Brasília, 8 de janeiro de 2023 - Revista Oeste

  • Em Washington, 6 de janeiro de 2021

Há dois anos, o mundo assistiu incrédulo a uma multidão raivosa avançar contra agentes de segurança e invadir à força o Capitólio, sede do Poder Legislativo dos Estados Unidos, em Washington. No ato que marcou o ápice da escalada antidemocrática incitada pelo ex-presidente Donald Trump, na tentativa de impedir a diplomação do então presidente eleito Joe Biden, sob argumento de que as eleições daquela que se intitula a maior democracia do mundo ter sido fraudada.

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Semelhanças?

A invasão por bolsonaristas do Palácio do Planalto, do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal no OITO DE JANEIRO guarda paralelos com a invasão do Capitólio dos Estados Unidos. Assim como nos EUA em que os apoiadores do então presidente republicano Donald Trump não aceitavam a sua derrota nas urnas para o democrata Joe Biden, os bolsonaristas não aceitam o resultado das eleições de outubro, em que Jair Bolsonaro perdeu para Luiz Inácio Lula da Silva. Ademais, nos dois casos, os radicais agiram com violência e houve vandalismo: as cenas de invasão de bolsonaristas na Praça dos Três Poderes em Brasília e as imagens da insurgência de trumpistas no Capitólio em Washington, dois anos antes, não são eventos desconectados, mas semelhantes. Tanto os radicais americanos quanto os brasileiros são de direita e defendem pautas conservadoras.

OUTROS ASSUNTOS DA VIAGEM

  • A América mais unida

A definição sobre o propósito principal da viagem foi dada nesta terça-feira, dia 7, pelo embaixador Michel Arslanian, secretário de América Latina e Caribe do Ministério das Relações Exteriores. De acordo com ele, a conversa entre Lula e Biden deve acontecer na tarde de sexta-feira no Salão Oval da Casa Branca, em Washington. Para tanto, o objetivo da viagem do presidente Lula aos Estados Unidos será para reforçar a boa relação entre os dois países, que deu uma enfraquecida desde que Joe Biden venceu a disputa pela Casa Branca, em 2020.

  • Questões ambientais

Além disso, ambos os países têm o meio ambiente e as mudanças climáticas como agenda doméstica prioritária. Durante a sua campanha presidencial, ainda em 2020, Biden afirmou publicamente que gostaria de lançar um fundo internacional para a preservação da Amazônia.

  • Diplomacia

O encontro visa um “resettling” na relação, que estava em banho-maria desde a eleição do presidente Biden, disse Arslanian, usando termo em inglês que significa uma espécie de reacomodação das relações diplomáticas. Para parte da diplomacia brasileira, as condições dos americanos para que o anúncio de uma cooperação na Amazônia fosse feito já estariam satisfeitas a ponto de permitir algum anúncio. Por fim, enquanto Biden vislumbra uma grave crise doméstica na fronteira, com a enorme quantidade de imigrantes chegando, Lula deve dizer ao presidente americano que o governo brasileiro não concorda com o modo como milhares de brasileiros têm sido sumariamente deportados, em voos fretados nos quais são levados algemados.

 As duas principais democracias do mundo

As democracias não são um processo de estanque, ou seja, totalmente fechado, pois nalgum momento elas precisam interagir e se contaminarem umas com as outras. Nossos cidadãos podem e têm tolerado períodos em que as democracias não lhes deram benefícios materiais; contudo, isso provavelmente tornar-se-á um equilíbrio precário nalgum momento. Como assim? Sabemos que o Brasil é quase uma cópia dos EUA, até o nosso modelo republicano foi herdado dele: “República dos Estados Unidos do Brasil”, em 1889; não obstante, os estadunidenses criaram, modelaram, aperfeiçoaram a República de Platão. E muito embora a “Democracia na América”, como definiu Alexis de Tocqueville, em 1835, tenha sido formada por rebeldes protestantes (político ou religiosamente) da Monarquia inglesa, tal já nasceu com o propósito de liberdade (com os ideais da Revolução Francesa de 1789) e do povoamento das 13 colônias. Outrossim, aqui no Brasil, o fruto da nossa República é dum golpe, duma minoria, que apenas queria dar um xeque-mate no rei, no nosso caso, no imperador Dom Pedro II do Brasil. Por isso somos uma cópia, por isso estamos em segundo lugar, por isso estamos no título “as duas principais democracias do mundo”.

Harrison S. Silva, colunista do Portal Política

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