Assim que um ministro se destaca, certamente é cercado de boatos, e os holofotes são acompanhados por intrigas. Desde a semana passada, o alvo é Silvio Almeida, ministro dos Direitos Humanos. Bom, falta-lhe articulação política e viajar mais pelo país, dialogando com os movimentos sociais e fortalecendo a presença do governo numa área ideologicamente estratégica. Coincidência ou não, Almeida anunciou que visitará presídios de todo o país na Caravana de Direitos Humanos.
“Almeida está organizando a Casa e todos os instrumentos de direitos humanos para dar um salto, e fará isso nos próximos meses”, afirma Carvalho, amigo pessoal de Lula e um dos articuladores da indicação de Almeida à Pasta. “É injusta a pressão. E, seguramente, o presidente é um cara experiente, sabe dos limites e com certeza tem essa sensibilidade”, acrescenta.
Ademais, a sua presença na internet, por outro lado, é muito bem dirigida, visto que o seu discurso de posse e da sua resposta ao senador Eduardo Girão (Novo-CE), durante audiência pública no Congresso Nacional, em abril, tornaram-se contundentes. Contudo, se no caso de Nísia Trindade, os boatos vêm da voracidade do centrão para comandar a Pasta da Saúde, é o fogo amigo de partidos da base aliada que atinge Almeida.
De licença paternidade, Silvio Almeida foi ao Twitter na tarde de quinta-feira, dia 20, para divulgar o primeiro concurso para o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania. Finalizou a série de tuítes indicando que, no futuro, pretende percorrer o país com uma agenda ampla de viagens, onde as pessoas mais precisam de nós.
O presidente do Brasil
Lula ainda não fez nenhuma declaração de apoio irrestrito a Almeida. Como toca a Reforma Ministerial sem pressão, costurando acordos com solidez, não deverá fazer acenos tão cedo. Resta a Almeida continuar mostrando serviço. É muito trabalho suceder Damares Alves (Republicanos-DF), mas ao mesmo tempo, as diferenças, e sobretudo os ganhos, são facilmente notados.
Nos últimos tempos, o destino do ministro vem sendo discutido nos bastidores de Brasília; ventilou-se Almeida, além de Nísia Trindade, da Saúde, e Ana Moser, do Esporte. Para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Almeida estaria apresentando desempenho aquém do esperado devido ao seu perfil acadêmico.
Para o advogado Marco Aurélio de Carvalho, coordenador do Prerrogativas, grupo do qual Silvio Almeida faz parte, é natural que haja uma pressão sobre os ombros de Lula e de Silvio, referindo-se às expectativas no campo dos direitos humanos diante do contraste com o governo Jair Bolsonaro (PL).
Como ficará a Pasta?
O centrão não tem interesse nem familiaridade com a agenda de direitos humanos, um Ministério que tampouco tem um orçamento considerável. Entretanto, segundo interlocutores, há partidos de esquerda que querem aproveitar a Reforma Ministerial para pleitear o posto: o diretório do PT de São Paulo e o PSB, legenda do vice-presidente Geraldo Alckmin. Ora, nesse tabuleiro da reforma das Pastas, Lula funestamente terá de ceder espaços da base para acomodar os comparsas de Lira (presidente da Câmara dos Deputados).
O próprio PT e o PSB, prevendo baixas no primeiro escalão, miram à Pasta dos Direitos Humanos em parceria com a sociedade civil e órgãos do sistema de prevenção e combate à tortura. Ademais, dará prioridade a visitas a penitenciárias que já foram alvo de acusações pela Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), chamando atenção até da OEA (Organização dos Estados Americanos). O caráter técnico de Almeida, sem maiores afinidades partidárias, não está ao seu favor, e a Pasta quer garantir boa visibilidade na imprensa, claro. Outrossim, há boatos de que Lula estaria decepcionado com sua atuação política de Almeida, pois sê-lo-ia acadêmico de mais, o tal caráter técnico.
Por Harrison S. Silva, colunista do Portal Política