O presidente do Chile, Gabriel Boric, disse que não se sentiu ofendido com as declarações do presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, sobre a participação dele na cúpula Celac–UE. O chileno falou ainda não haver diferenças substanciais entre ele e Lula. O presidente do Chile foi criticado pelo líder brasileiro pela sua posição no encontro sobre as dificuldades dos países da América Latina em criticar a invasão russa da Ucrânia.
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“Não me sinto ofendido, estou tranquilo. Hoje, podemos ter diferenças em relação a isso [o posicionamento sobre a guerra na Ucrânia], mas a posição do Chile é uma de princípios e, nisso, acredito, temos que ser claros, não podemos deixar espaço para dúvidas”, declarou Boric. “E não tenho dúvidas de que ambos buscamos a paz”, completou.
Lula havia afirmado que Boric “parecia um pouco mais nervoso do que os outros” presidentes durante o encontro dos 60 países membros da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e da União Europeia (UE), ocorrido no início desta semana. “Provavelmente porque deve ter sido a primeira reunião que Boric participa da União Europeia com a América Latina, ele está um pouco mais ansioso do que os outros. Só isso”, comentou Lula na ocasião.
Durante a resposta, Boric ainda elogiou o líder brasileiro e comentou que outros líderes da América Latina também poderiam estar nervosos, já que também estavam, assim como ele, pela primeira vez em uma cúpula da Celac-UE. “A cúpula Celac-UE não acontecia há oito anos, portanto, acho que foi a primeira cúpula para muitos líderes”.
“Eu respeito e amo muito o Lula. Mas, se me perguntam se eu quero que a guerra acabe, sim, eu quero que a guerra acabe. E acredito que temos que ser muito claros ao dizer que esta é uma guerra de agressões inaceitáveis. Independentemente das posições que a gente pode ter em relação às presidências temporárias de um país ou de outro. O importante é que sejamos capazes de defender o direito internacional a todo custo”, finalizou Boric.
A resposta do presidente chileno foi dada após ele desembarcar na estação Lyon-Part-Dieu, em Paris, na França, a última parada duma viagem internacional que vem fazendo. Boric foi questionado pela imprensa sobre alguns assuntos de interesse internacional, entre eles as recentes declarações do presidente do Brasil.
Boric se tornou uma pedra no sapato de Lula
Quando o assunto é a invasão russa da Ucrânia ou a Venezuela, o presidente do Chile, Gabriel Boric, tornou-se uma pedra no sapato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e doutros líderes da esquerda latino-americana mais antiga, e nalguns casos mais radicais. Na coluna anterior, eu defendera [grifo meu] que a diferença de idade daria um peso ao novo, à “neoesquerda” que o líder chileno vem adotando. Boric está demonstrando autonomia, inclusive em relação ao Partido Comunista do Chile, que integra a coalizão do governo e as suas posições causam problemas a Lula e a outros governos de esquerda da região. A nova esquerda.
Boric, sendo um presidente de esquerda, questionou as falas de Lula sobre a Venezuela, na Cúpula de chefes de Estado sul-americanos, em Brasília. Outros presidentes de direita também se pronunciaram, mas Boric foi o único de esquerda a fazê-lo. Ora, o Chile tem um problema seriíssimo com o fluxo de imigrantes venezuelanos que conseguem escapar do regime de Nicolás Maduro. Ademais, Boric tem uma visão mais consequente que Lula sobre questões como violações dos direitos humanos e a guerra na Ucrânia.
Ilação: para a Europa, está ficando claro que não existe uma onda rosa na América Latina ou do Sul, mas pode haver nuances.
Por Harrison S. Silva, colunista do Portal Política