Embora o chanceler de Portugal tenha convidado o presidente brasileiro, os parlamentares dos nossos pais lusófonos não ficaram muito contentes com isso.
Na semana passada, o chanceler português fez uma declaração de que o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, discursaria na Assembleia da República de Portugal durante a celebração da Revolução dos Cravos*. Entretanto, alguns deputados daquele país se posicionaram contra a participação dum líder estrangeiro no evento comemorativo. Em 25 de abril a Revolução completará 49 anos.
A direita portuguesa prometeu receber o presidente Lula, que fará uma viagem oficial a Lisboa em abril, com a maior manifestação de repúdio à visita dum chefe de Estado estrangeiro que o país já viu. A afirmação é do líder do PARTIDO CHEGA, que é a terceira maior força do Parlamento de Portugal. O Partido até convocou uma entrevista coletiva na tarde desta terça-feira, dia 28, para anunciar a ação.

Dessarte, passados alguns dias, veio a confirmação de que Lula não discursará mais na sessão solene do Parlamento lusófono; todavia, sê-lo-á, recebido na casa numa cerimônia separada.
*A Revolução dos Cravos, também conhecida como Revolução de 25 de abril, refere-se a um evento da história de Portugal resultante do movimento político e social, ocorrido a 25 de abril de 1974, que depôs o regime ditatorial. É importante observar que tal Revolução pôs fim ao Estado Novo, também conhecido como Salazarismo, em referência a António de Oliveira Salazar, o seu fundador e líder. A Revolução dos Cravos aconteceu praticamente sem violência, com apenas quatro mortos, diante duma vitória rápida e sem hostilidades. Vigorava em Portugal desde 1941.
ENTENDA A POLÊMICA
Marcada para acontecer de 22 a 25 de abril, a viagem começou a reverberar na política interna lusitana após o anúncio de que o petista discursaria no Parlamento durante a cerimônia de aniversário da Revolução. E muito embora tenha dito que conta com o apoio de diversos dirigentes, membros de associações, empresários, advogados, clérigos e fiéis de vários distritos do país, André Ventura, deputado do PARTIDO CHEGA, não apresentou o nome de nenhuma entidade ou personalidade brasileira que esteja endossando os protestos. “Estamos a falar com membros dessas associações, mas não pediremos o apoio formal delas“, disse o deputado, que afirmou buscar o suporte dos membros dessas entidades em caráter individual.
Enquanto partidos de esquerda afirmaram apoiar a participação de Lula nas celebrações, uma das mais importantes do calendário político luso, legendas de direita mostraram contrariedade. Líder da Iniciativa Liberal, o deputado Rui Rocha afirmou que sua sigla pode abandonar a tribuna caso o discurso do petista de fato aconteça.
Diplomacia em xeque?
Oficialmente, a visita de Lula é um convite feito pelo seu homólogo português, Marcelo Rebelo Sousa, que divulgou a realização da viagem em janeiro, quando estava em Brasília para a posse do brasileiro. Pois é, sabemos que as Relações Internacionais é um assunto, hoje mais ainda, tão delicado quanto a política interna. Ter boas relações com países vizinhos, países que compartilham as mesmas história e, também, países que falam a mesma Língua, mesmo que haja um histórico de colônia e metrópole, que, no nosso caso envolve a Língua Portuguesa, a lusofonia; é necessariíssimo para mantermos Neoglobalizados (grifo meu).
Ora, a direita sinalizou que poderia constranger o petista caso o discurso aconteça durante a sessão solene das comemorações do 25 de abril. Mas, nem só de direita vive a política, lógico! Uma das mais antigas associações de apoio à comunidade brasileira em Portugal, a Casa do Brasil, em Lisboa, repudiou tais protestos. E olha que Lula teve vitória expressiva em Portugal nos dois turnos das últimas eleições. O petista levou a melhor sobre o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por lá.
Por Harrison S. Silva, colunista do Portal Política