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“O resultado do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) revelou mais do que a péssima posição do Brasil na classificação mundial de desempenho educacional. As notas abaixo da média alcançadas por nossos alunos evidenciam a falha de um sistema de educação que peca por não preparar seus pupilos para o básico. Em um país que se orgulha por possibilitar, nos últimos anos, a democratização do acesso ao ensino superior, de fato necessário, o exame que avaliou nossos jovens, potenciais candidatos a uma vaga nas universidades, é digno de reflexão. Até que ponto estamos possibilitando o acesso a um ensino de qualidade quando assistimos a uma deterioração no resultado educacional de nosso país?
Universidades públicas criadas nos últimos 20 anos possibilitaram a interiorização do ensino superior e o acesso a alunos oriundos de famílias sem histórico de ingresso nessas instituições. Essa geração de jovens tem sido marcada pela oportunidade que lhe é dada para ir além do ensino médio, conquistando o tão sonhado diploma, inacessível a seus pais por falta de perspectiva e chance de prosperidade. Por mais louvável que seja essa conquista, não se pode fechar os olhos para a realidade que nos é apresentada. Aulas de nivelamento em Português e Matemática nas universidades públicas se tornaram lugar-comum, demonstrando que nosso ensino médio e básico padece de cuidado. Afinal, não cabe ao ensino superior cobrir a lacuna deixada pelo ensino básico. É preciso reforçar o básico para a excelência do ensino superior. Sem isso, não prosperaremos.
A falta de valorização de nossos professores, a ausência de limites e o medo de repreensão que ditam o ritmo de nossas escolas, do corpo docente ao discente, têm transformado o ambiente escolar em um lugar, muitas vezes, hostil e inseguro. Há exceções, claro, mas grande parte de nossas instituições de ensino fundamental e básico tem falhado na formação de jovens preparados para lidar com a vida, uma geração que desperta preocupação quando se pensa na construção de um futuro de país. O modelo de escola cívico-militar, infelizmente descontinuado pelo atual governo, em certa medida propiciou a muitos jovens em situação de vulnerabilidade social um ensino de qualidade em ambiente seguro. Esse modelo, claro, não é o único com resultados exitosos, mas sua interrupção por desagravo de um governo ideológico, a meu ver, foi um erro.
Somado à falha na qualidade de nosso ensino, temos, como consequência, a evasão escolar que, infelizmente, arrasta muitos de nossos jovens para longe de oportunidades de crescimento baseadas no esforço e no mérito. O que assistimos, cada vez mais, é ao aumento no número de jovens sem perspectiva, a chamada ‘geração nem-nem’, vulnerável, imatura e incapaz de lidar com desafios por lhe faltar entusiasmo, esperança e objetivo de vida. Esse fato, relativamente novo, merece atenção da sociedade civil, das instituições públicas e privadas, das autoridades das mais diversas.
O potencial explosivo dessa massa de manobra representa um risco para o futuro do Brasil na medida em que fechamos os olhos e nada fazemos a não ser assistirmos, passivos, aos resultados nefastos de um caos educacional que se instalou. O Brasil e a sociedade perdem, enquanto alguns países do mundo tentam reverter o quadro, a exemplo de Cingapura, que há poucas décadas padecia de uma realidade social e educacional caótica e que hoje ostenta a primeira colocação na prova do Pisa como o país com o mais alto índice de educação escolar do mundo.
Em quais pontos estamos errando? A resposta não é simples, mas não podemos deixar de apontar alguns fatos que ajudaram a potencializar o que nos tornamos: o aumento da violência dentro e fora das salas de aula; a perda de valores por falta de exemplo; a incapacidade de lutar pelo crescimento pessoal; a falta de estímulo profissional e ético; a ausência de limites de nossos jovens; o senso de impunidade; a imaturidade e a carência de respeito e de responsabilidade. Esses fatores não atingem, exclusivamente, nossos jovens, mas toda a sociedade que insiste em tratá-los, cada vez mais, como se crianças ainda fossem, dentre outros aspectos que tangem e agravam a problemática.
O Brasil não irá avançar enquanto não encararmos de frente esses problemas de modo a construir um novo caminho capaz de mudar a triste rota de nossa educação. Para isso, é preciso repensar, não apenas o nosso sistema educacional, mas as nossas leis e a sua aplicação para sairmos do ciclo de vitimização que aparta muitos membros de nossa sociedade de suas responsabilidades. Os direitos têm de ser respeitados e deveres, cumpridos. O senso de solidariedade é o básico e deve ser resgatado sob pena de envelhecermos sem preparar uma geração capaz de valorizar o trabalho, a vida, o cuidado e o respeito ao próximo, a responsabilidade com quem os cerca e com a coisa pública. Esse é o pacto de gerações, pilar da civilização ocidental.”
Fonte: jornal Estadão
Texto: Assessoria de Comunicação do senador Hamilton Mourão
Edição: Harrison S. Silva, jornalista




