Fred Le Blue Assis (doutor em Planejamento Urbano e idealizador do Goiânia 2030)
Caos na limpeza urbana e sujeira pública na gestão Cruz. Apesar de utilizar de estratégias de greenwashing para vender uma imagem de gestão ecológica, plantando 90.000 mil mudas (mas nunca abraçando árvores), a gestão do prefeito Rogério Cruz tornou-se literalmente um lixo não reciclável. Tanto pela falta de investimentos na estrutura tecnológica e humana da Companhia Municipal de Urbanização (Comurg), quanto por escândalos de corrupção na entidade, o cenário é de descaso com o serviço e coisa pública.

No mês de abril de 2024, o lixo começou a ser acumulado nas calçadas, criando pilhas enormes, no que atrapalha a acessibilidade, inclusive, de pessoas com deficiência e mobilidade reduzida, com risco iminente também para saúde pública. Apesar de a companhia ter expertise para coleta de lixo, varrição, cuidado das praças, manejo do aterro e recapeamento asfáltico, enfrenta o problema de recursos humanos: defasagem do quantitativo de profissionais por falta de realização de concurso público para funções de coletores e de motoristas, e não transição de servidores contratados pelo regime celetista para estatutário (plano de cargos e salários). Além disso, há o jogo de interesse na Companhia que fez Cruz aumentar o número de servidores comissionados, na sua maioria, sem perfil técnico, que passou, de 140 para 330 entre agosto de 2021 e 2024, tendo sido 33% deste total, nomeado neste ano.
Essa politização desproporcional, somada ao excessivo endividamento da Comurg contribuiu para desqualificação do serviço e o aumento da corrupção por meio de um esquema contratos de licitação viciados com a empresa. Trinta e dois mandados de busca e apreensão foram cumpridos em março contra empresários, pregoeiros, funcionários, diretores, gestores, fiscais de contratos e até secretários municipais (Luan Alves, ex-Presidente da Agência Municipal do Meio Ambiente). A Operação da Polícia Civil (PC) aprendeu R$ 431 mil na casa do Alisson Silva Borges, ex-presidente da Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg), sendo obrigado a renunciar do cargo. São investigadas supostas fraudes no pregão eletrônico em cinco licitações em que os investigados supostamente criaram uma espécie de cartel para ganhar os lotes mais atraentes através da técnica desviante de “mergulho de preço” com suposto superfaturamento dos valores, prazos e quantidades.
A não renovação do contrato de coleta de lixo da prefeitura com a Comurg, como resposta pronta a sua crise ética e administrativa, com paralelo com a ingerência da prefeitura na dimensão macropolítica, sugere uma perversidade neoliberal ainda maior, que é a preparação do terreno para a sua privatização por completo. Isso porque a entidade já estava, seja por corrupção, seja por omissão, a serviço dos interesses privados (políticos) e não públicos, sendo necessário a sua republização, o que só será possível quando Goiânia tiver um prefeito que atue com governança corporativa e desenvolvimento sustentável de forma 360 graus e na primeira pessoa.