Parlamentares evangélicos aliados ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se destacam na Câmara e no Senado por assumirem posições contrárias às de colegas conservadores da Frente Parlamentar Evangélica. O grupo busca evitar que a bancada seja usada como palanque de oposição ao atual presidente.
“Espero que não seja uma bancada criada com o ideal político de oposição ao governo. Tem que ser proativa. A crítica faz parte do processo democrático e é muito importante, mas o que for feito aqui no Congresso não pode ser instrumentalizado para comprometer ou atrapalhar qualquer ação pública”, afirmou a líder da bancada governista no Senado, Eliziane Gama (PSD-MA).
Eliziane é uma das poucas parlamentares aliadas a Lula que assinaram a Frente Parlamentar Evangélica no Senado, criada na semana passada. A bancada será presidida pelo senador Carlos Viana (Podemos-MG).
Segundo o deputado mineiro, o grupo não se pautará por posições político-partidárias, mas também não deixará de acompanhar de perto os movimentos do governo Lula.
“Nossa proposta é deixar claro o que acreditamos: a deslegalização do aborto no Brasil, contra a legalização das drogas. Mas não será uma frente político-partidária. Queremos ser proativos. Agora, se o governo quiser colocar votar pautas que vão contra nossos princípios, então seremos a voz da oposição”, declarou Viana.
A senadora Damares Alves (Republicanos-DF), vice-presidente da bancada no Senado, seguiu a linha de Viana e disse que a bancada “não será oposição ao governo Lula”.
“Vamos deixar isso bem claro. A bancada vai rezar pelo governo Lula. Faremos oposição política no lugar certo. Além disso, tem senadores evangélicos da base do governo. Temos que reconhecer que muitos evangélicos elegeram esse governo”, disse ela. declarada no dia da inauguração dos trabalhos da bancada no Senado.
Na Câmara, os deputados Benedita da Silva (PT-RJ) e pastor Henrique Vieira (PSOL-RJ) são ligados à pauta evangélica, mas têm posicionamentos diferentes sobre a participação na bancada.
Assim como Eliziane, Benedita entra formalmente no grupo. A ex-ministra de Lula prefere marcar sua posição em determinados assuntos por ser membro da FPE.
“Tenho extremo respeito pela minha fé, pelo meu Deus, e sei que se Deus permitiu que eu e todos os deputados fôssemos eleitos para cuidar do povo, aqueles que foram eleitos e temem a Deus, como eu, têm a obrigação de cuidar do povo, e é isso que o presidente Lula já está fazendo”, disse ela ao Poder360.
Henrique Vieira, deputado em primeiro mandato pelo PSOL, optou por não participar da “Bancada da Bíblia”, apelido que a bancada recebe.
“A bancada tem premissas e princípios sobre a relação entre religião e Estado muito diferentes daqueles que venho defendendo ao longo da minha vida pública e que são estruturantes do mandato coletivo que represento”, disse o parlamentar.
“A fé em Jesus não prescreve que eu, para ser cristão, precise me associar única e exclusivamente a organizações de direita e de extrema direita. A fé atua em outro nível. Ela molda meus amores, meus afetos e minha ética e me oferece uma experiência de liberdade para me expressar politicamente em projetos históricos que, na minha leitura simples e particular, tenham melhores relações com a forma como leio e vivo a vida com Jesus”, declarou Vieira sobre as críticas que recebe dos conservadores por sua posições.