O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, tem repetido há dias que o seu governo vai recuperar o Essequibo, uma região em disputa que representa mais de 70% do território da vizinha Guiana. Para invadi-lo por terra, no entanto, Caracas teria que necessariamente passar pelo território brasileiro, o que embora seja possível, não parece provável no contexto atual.
A Venezuela condenou, nesta quarta-feira, dia 6, as recentes declarações do presidente da Guiana, Mohamed Irfaan Ali, e advertiu que de maneira irresponsável foi dado sinal verde à presença do Comando Sul dos Estados Unidos na região de Essequibo. Chanceler venezuelano Yvan Gil destacou que a Guiana mantém uma ocupação de fato e uma controvérsia territorial com a Venezuela.
Guiana e Venezuela disputam há mais de um século o Essequibo, um território rico em petróleo e recursos naturais. Agora, o conflito histórico ganhou mais um capítulo após o presidente venezuelano Nicolás Maduro anunciar a realização dum referendo para decidir sobre a anexação dessa área. Enquanto a Guiana recorre a uma sentença de 1899 em que foram estabelecidas as atuais fronteiras, a Venezuela reivindica o Acordo de Genebra, assinado em 1966, que anulou a sentença e estabeleceu bases para uma solução negociada.
O coronel da reserva Paulo Roberto da Silva Gomes Filho, mestre em Ciências Militares, explica que a fronteira entre Venezuela e Guiana é predominantemente formada por selva, o que impede o deslocamento de colunas de viaturas blindadas e dificulta o deslocamento de tropas a pé, assim como o envio dos suprimentos necessários à manutenção das tropas em combate. Por outro lado, na fronteira com Roraima, a vegetação de campos gerais é adequada ao movimento das tropas.
Entenda
A disputa esquentou com o referendo e a movimentação militar da Venezuela na borda do território da antiga Guiana Inglesa. Ademais, grandes atores internacionais se movimentem e os Estados Unidos ameaçam retomar as sanções impostas a Maduro, a Inglaterra se disse preocupada com a situação e o Brasil tem grande preocupação com o tema, por serem países vizinhos e parceiros.
Em Brasília, o chanceler brasileiro Mauro Vieira recebeu lideranças sul-americanas e alertou, segundo o Estadão: “Os delegados da Guiana e da Venezuela apresentaram suas posições, e os outros países lhes pediram para que cheguem a um entendimento por meio de canais diplomáticos e resolvam suas disputas pacificamente“. Lula mandou Celso Amorim a Caracas essa semana para buscar um entendimento pacífico junto a Maduro. O medo é que, caso o referendo tenha sucesso, a situação possa escapar do controle e o tom se eleve para uma invasão por parte da Venezuela.
Mas de 100 anos
No século XIX, quando a Guiana ainda era uma colônia britânica, ela delimitou o seu território a leste do rio, mas gradualmente expandiu-se para o oeste, que já fazia parte da Capitania Geral da Venezuela. A descoberta de depósitos de ouro e a chamada Linha Schomburgk empurrou a fronteira da Guiana Britânica para o oeste, anexando o atual território em disputa. Isso motivou a criação de um tribunal arbitral em Paris para decidir a respeito. A sentença, emitida em 1899, retirou da Venezuela todo o Essequibo. A Venezuela, porém, considerou essa decisão inválida, citando indícios de imprecisões e parcialidade dos árbitros.
Em 2020, o tribunal concordou em examinar o caso, mas a Venezuela não reconhece a sua legitimidade para tal. A disputa intensificou-se com a descoberta, em 2015, de campos petrolíferos na região e as negociações da Guiana com a gigante energética norte-americana ExxonMobil para a sua exploração. Hoje, a Guiana tem uma reserva estimada em 11 bilhões de barris, o que equivale a cerca da 75% da reserva brasileira de petróleo e supera as reservas do Kuwait e dos Emirados Árabes Unidos.
Fonte: O Globo, CNN e UOL, com adaptações
Geografia, a Ciência da guerra
Pode até parecer exagero supor uma iminente guerra próximo à Linha do Equador e ter o Brasil como palco, mas disputas territoriais, não só entre os primatas humanos (Taxonomia), como também noutras ordens dos mamíferos são mais que comuns para mostrarem poder. Território significa mais área cultivável para a agricultura, significa mais gente para ter maior uma base eleitoral para fins políticos, mais consumidores para fins econômicos e, ainda, mais homens no exército; ora uma massa militar! Se um Estado-nação não pode comprar um pedaço de terra, como fizeram os EUA com o Alasca, da Rússia, ou o Brasil com o Acre, da Bolívia, fazem-na à maneira antiga, ou ainda mais que contemporânea: tomar à força, por guerra.
Desde a antiguidade clássica ou oriental, quando o profeta judeu Josué, narrado na Bíblia, escreveu sobre as cidades que foram tomadas contra o povo de Israel; passando pelas idades média, moderna e, mais “recentemente”, quando Napoleão se tornou imperador e queria republicar toda a Europa, conquistando países, como narrado livro Leo Tolstoy Guerra e Paz, as guerras fazem parte das decisões humanas para conquistarem territórios. No primeiro caso, o Deus de Israel havia ordenado a Moisés para que fosse às montanhas para destruir as cidades [paráfrase] e assim a guerra acabou. No segundo caso, Napoleão Bonaparte perdeu a guerra quando chegou à Rússia, pois era frio e não conhecia a climatologia do local. Em ambos os casos, é necessaríssimo estudar Geografia física, relacionado ao relevo (montanha) e ao clima (frio).
Aqui na América do Sul, e em pleno século XXI, embora não haja mais razão para ter uma guerra, Nicolás Maduro não terá o Deus de Israel ao seu favor nem a desculpa de não conhecer a Geografia do oponente. Todavia, mesmo de caráter ignominioso, a Geografia é a Ciência da guerra, pois para vencê-la, é necessário conhecer o território do oponente.
Harrison S. Silva, jornalista
Colunista no Portal Política




